Muitas pessoas têm de comentar com senso crítico a vida dos outros; em outras palavras, fazer fofoca.
Característica humana. Dizem que existe fofoca pelo simples motivo de vivermos em sociedade. Para que isso seja justificativa suficiente, vale lembrar que para que um grupo de pessoas passe a ser considerado uma sociedade, é necessário que tais pessoas tenham interesse umas pelas outras. Nesse caso, é inevitável que umas comentem sobre as outras.
De certa forma, ao fazer um comentário sobre alguém, estamos tentando compreender a essência da própria espécie humana, portanto estamos fazendo um exercício de auto conhecimento.
Aquele que não se interessa por ninguém padece de uma sociopatia que o leva a se afastar do convívio, o que prejudica até a relação intrapessoal. Portanto, parece que todo mundo faz fofoca.
O que varia entre as pessoas é a quantidade e a natureza da fofoca que fazem. Há gente muito fofoqueira e há os fofoqueiros circunstanciais. Há aqueles que usam a fofoca como maledicência, realmente prejudicando os que são seus alvos; e há os que se divertem com fofocas inocentes.
Mas todo mundo faz fofoca, é da natureza humana - já dizia Machado de Assis.
O grande mal da fofoca é a parcialidade da interpretação de quem a faz. Comentar algo sobre a vida de alguém é uma coisa, emitir juízo de valor sobre a mesma é outra. Dizer que o chefe do escritório está trabalhando demais e tem apresentado sinais de estresse é uma coisa; mas insinuar que ele fica no escritório porque, provavelmente, está brigado com a mulher e ainda por cima desconta em cima dos funcionários é outra totalmente diferente.
Aliás, ambientes de trabalho são um caldo de cultura ideal para o crescimento da fofoca.
Nesse caso, fofoca é como estresse: não dá para evitar, mas dá para administrar. As empresas modernas estão muito interessadas em gerar bom clima organizacional, o que equivale a ter um ambiente de trabalho saudável, em que as pessoas convivem em harmonia, colaborando umas com as outras.
O coleguismo ultrapassa a relação profissional, ainda que não se transforme necessariamente em amizade. Há discordâncias, mas também há respeito. Nesse tipo de ambiente, se houver fofoca, não será destrutiva.
Mas quando as funções se sobrepõem, e o que deveria ser colaboração se transforma em competição, é quase inevitável que a fofoca venha na garupa dos cavaleiros do apocalipse corporativo.
O psiquiatra Ângelo Gaiarsa é um estudioso da alma humana. Polêmico, não se limita aos temas clássicos da psicologia acadêmica - tanto que, entre os assuntos de seu interesse que viraram livros, encontramos um curioso Tratado Geral Sobre a Fofoca. Gaiarsa interessa-se pelo cotidiano das pessoas. Ele nos informa, por exemplo, que sua observação detectou que apenas 20% das informações trocadas entre as pessoas em qualquer ambiente têm realmente alguma utilidade. O resto é futilidade, é falar por falar. Nesse conjunto, a fofoca reina soberana.
Pertencem ao mesmo grupo coisas como falar do chefe, da mulher do amigo ou de tal atriz, sugerindo que todos eles não são o que parecem ser, mas o que tentam esconder. Então fofocamos 80% do tempo? Pode até ser, mas outro estudo dá conta de que, desse tempo, apenas 5% ou menos são utilizados para fazer fofocas negativas, aquelas que realmente podem prejudicar alguém. A maior parte das fofocas, então, é inócua. O problema é que o poder destrutivo daquela pequena parcela lembra a energia contida no urânio enriquecido.
De qualquer maneira, penso que fofocar é tocar fogo na palha.
Maurício Sheinman
2 comentários:
Há apenas uma coisa no mundo pior do que falarem mal de você: é não falarem sobre você. O autor dessa frase é o escritor irlandês Oscar Wilde, famoso por sua língua afiada. E ele estava certo. Se isso vale quando você está fora do trabalho, por que não valeria entre as quatro paredes da empresa?
A fofoca é uma realidade corporativa e existe desde que o mundo do trabalho é o mundo do trabalho. Estudos de longo prazo feitos em diversos países comprovam que as pessoas dedicam de um quinto a dois terços de sua conversa diária à fofoca. Outro estudo feito nos Estados Unidos revelou que um funcionário típico passa cerca de dois meses por ano inteiros “dando com a língua nos dentes”.
Silvania Ribeiro
Muito interessante Carol esse texto, traz de maneira bem clara que a fofoca irá sempre existir, mas que precisa ser dosada e de preferência inofensiva.
Pedindo uma análise crítica do senso comum, pois tanto pode não acontecer nada, como pode acabar até em demissão ou algo bem pior conforme matéria no folha de são Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/750831-fofoqueiro-esta-sujeito-a-demissao.shtml
”...O fofoqueiro está sujeito a penalidades previstas na Constituição, no Código Civil e na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que podem levar à demissão por justa causa, ao pagamento de indenização e, no limite, à detenção” .
Também é danoso quando o indivíduo além de fofocar, gerar um clima organizacional pesado, passa a não atingir seus objetivos e apresenta fraco desempenho contínuo, pois a energia está sendo direcionada para a fofoca.
Ou seja, sempre o bom senso e a maturidade são essenciais para o autocontrole.
É sempre aconselhável fazer aquela pergunta:
É verdade?
Vai acrescentar algo positivo na minha vida ou na empresa?
Olhem que vídeo legal:
http://vidaderh.com.br/fofocas-no-trabalho/
Rafaela
Postar um comentário